Ultimamente tenho pensado bastante sobre como, na minha vida, eu precisei recomeçar incontáveis vezes. Recalcular a rota, sabe? “Às vezes é necessário desviar os caminhos para chegar ao seu objetivo”, chega ser poético né? Mas na vida prática essas histórias de recomeços podem vir carregadas de frustração e fracasso.
Pensando sobre os recomeços, a minha primeira lembrança é de quando eu deixei de morar com meus pais, ainda muito novo. Por mais que os motivos tenham sido ruins, eu meio que gostei da ideia de “mudar de vida”, de viver em ambientes diferentes dos que eu frequentava e me rodeavam. O sentimento de esperança e empolgação com o novo logo foi sendo apagado com a realidade. Depois dessa experiência, aconteceram novos episódios que me obrigaram a ter que “recalcular a rota da vida”; aconteceram novos recomeços. A cada recomeço que me atravessava, eu me sentia menor, menos confiante, menos capaz de realizar qualquer sonho.
Há 2 anos voltei para a casa dos meus pais. Quando tomei a decisão de retornar, diferente da sensação de esperança do dia em que fui embora, fui tomado pelo sentimento de fracasso. Eu acreditava que o retorno me faria retroceder. Constantemente eu pensava nos impactos que a mudança de cidade trariam para a minha rotina, e isso me deixava apavorado, só conseguia pensar nos prejuízos que essa decisão traria. Apesar disso, nada poderia alterar o fato de que era a melhor escolha que eu tinha naquele momento, e por isso voltei. Ainda que tenha sido difícil lidar com o sentimento de fracasso ao me comparar com outras pessoas - comparações injustas, óbvio! Existe todo um contexto racial e social que envolvem essas questões -, hoje eu consigo entender que devo me atentar ao meu processo validando todos os atravessamentos que ele tem/teve.
Entretanto, conseguir enxergar e entender todas essas questões não anulam a dor e o sofrimento que esses recomeços me causaram. É claro que tiveram os que foram importantes e necessários, voltar a morar com os meus pais foi um deles; também consigo perceber que nas situações onde eu gostaria de não ter experienciado, houveram aprendizados e amadurecimento; e sim, é preciso aceitar que as coisas que já aconteceram são imutáveis. O ponto é que esses aprendizados e amadurecimentos poderiam ter ocorrido de outras formas, talvez até menos traumáticas, e isso não pode deixar de ser considerado. Sobretudo para que essas histórias não sejam romantizadas.
Às vezes é necessário recomeçar sim, mas o meu desejo é que quando isso aconteça, que seja por uma escolha e não por imposição. E quando fugir do meu poder de escolha, que eu possa ao menos refletir previamente em como irá me afetar e quais caminhos terei à disposição para minimizar os danos.
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